Com o advento da microcirurgia, parte da cirurgia reconstrutiva que trabalha com vasos e nervos de pequenos calibres (1 a 5 milímetros), a qual utiliza microscópio e lupas magnificadoras, surgiu na década dos anos 60, possibilitando a realização de reimplantes e transplantes de tecidos.

Tranlsplante ou retalho de tecidos é a retirada de uma parte do corpo (tecido) para outro lugar onde há falta, reconstruindo, portanto, a parte afetada ou lesada. Essa perda de tecido pode ter sido decorrido por algum acidente industrial, automobilístico ou agrícola, arma de fogo (revolver), arma branca (faca ou facão) e explosões (fogos de artifício).

Os retalhos de tecidos podem ser: livres (onde há uma desconexão total das estruturas vasculonervosas, ou seja, artérias, veias e nervos e reconectados por técnica microcirúrgica em outro lugar do corpo) e pediculado (onde não há desconecção das estruturas vasculonervosas, e, sim, uma rotação de um determinado tecido que servira para cobrir uma estrutura exposta ou lesada. Os retalhos livres ou pediculados podem ser: cutâneos, musculares, ósseos ou complexos (cutâneos, musculares e ósseos ao mesmo tempo).

Reimplante

Reimplante é quando um membro (dedo, mão, braço, pé, etc…) amputado é recolocado de volta no local de origem, onde é refeita a parte óssea (osteossíntese), artérias, veias, nervos, músculos e tendões.

Essas amputações podem ser completas, onde o membro está totalmente separado do corpo, ou, parcial, onde a amputação é técnica, ou seja, não há circulação arterial ou venosa no membro afetado, mas o membro ainda continua preso no corpo por pele, osso ou tendões.

Os reimplantes de membros tem interessado os cirurgiões há séculos. HOPFNER, em 1903, publicou um trabalho experimental sobre reimplante em amputações completas de membros em cães. Somente em 1962, Malt e Mckham realizaram o primeiro caso de reimplante em um menino de 12 anos que havia sofrido amputação completa do membro superior (braço) e cujo o reimplante foi um sucesso.

Anastomoses (revascularização arterial ou venosa) em calibres menores com 1.5mm de diâmetro foi demonstrado por BUNCKE em 1965. Mas foi KOMATSU e TAMAI em 1968 que realizaram o primeiro caso de reimplante de polegar e enfatizaram a importância do uso e recursos microcirúrgicos em reparações vasculonervosas de dedos amputados, ou seja, reparo de estruturas de diâmetros muitos pequenos que variam de 1.0mm a 1.5mm, como artérias, veias e nervos com auxílio de microscópios ou lupas magnificadoras (Fig. 1 e 2).

Em Passo Fundo, o Hospital São Vicente de Paulo, tem tradição em reimplantes há cerca de 20 anos, com a participação de ortopedistas, cirurgiões vasculares, neurocirurgiões e anestesistas, ou seja, uma equipe multidisciplinar.

Desde janeiro de 1999, em Passo Fundo, foi introduzida a técnica microcirúrgica de reconstrução para reimplantes e retalhos livres, que possibilita salvar muitos membros superiores ou inferiores que estariam à risca de amputação. Já foram realizados desde janeiro de 1999 pela equipe do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) e do Serviço de Anestesiologia e Recuperação (SAR) vinte e sete (27) retalhos de tecidos (livres ou pediculados) e dez (10) reimplantes.

Transplantes de tecidos homólogos (de uma mesma espécie – cadáveres ou não) como: rins, coração, pulmão, fígado já vêm sendo também realizados com sucesso na nossa cidade. Transplantes de membros (cadáveres) estão em desenvolvimento, como é o caso do transplante de mão realizado em Lyon (França) em 1998, e em Louisville (EUA) em janeiro de 1999. Nestes casos as dificuldades são ainda maiores, pois há uma grande necessidade de drogas imunossupressoras para evitar rejeições. Nas destruições articulares ou ósseas por trauma, tumores ou artrose, as próteses (partes sintéticas feitas de ligas metálicas e plástico) vieram substituir as partes danificadas, restabelecendo a função, diminuindo a dor e remodelando a deformidade prévia, dando ao indivíduo a possibilidade de retomar as suas atividades habituais.

Com o desenvolvimento tecnológico de novas técnicas cirúrgicas, aparelhos, biomecânica, engenharia genética e imunologia, a substituição e reimplantes de partes do corpo vem se tornando um cotidiano em nossas vidas, transformando a ficção em realidade ao filme de Frankstein.

Antônio Severo, Microcirugião e Ortopedista.

Estruturas que devem ser novamente ligadas em um membro amputado, como: ossos, artérias, veias e tendões (UofL; Jewish Hospital and Kleinert, Kutz Associates, 2001).

Após as estruturas religadas, os cirurgiões observam se há retorno de circulação sanguínea no membro reinplantado, através da pulsação e coloração da pele (UofL; Jewish Hospital and Kleinert, Kutz Associates, 2001).

Indicações

Indicação de reimplante

1 – Perda de dedos, em especial o polegar, pois este é fundamental para o movimento de apreensão ou pinça.

2 – Perda da mão, a qual é essencial para as atividades do dia-a-dia de qualquer pessoa.

3 – Perda do pé, fundamental para a deambulação (ato de caminhar), para o equilíbrio e para a manutenção na posição ortostática (ato de ficar em pé).

 

Indicação de Transplante ou Retalho de Tecidos

1 – Locais onde há exposição de articulação, osso e tendão que não podem ser cobertos (revascularizados) com apenas enxerto de pele simples.

Exemplo: uma determinada pessoa que perdeu tecido muscular em uma das pernas com grande exposição óssea necessita de uma cobertura musculocutânea, então, um músculo com pele das costas (ex:grande dorsal) é retirado com vasos (arteria e veias) e recolocado na perna que sofreu o acidente. Enfim, a cirurgia reconstrutiva por meio de retalhos de um modo geral, pode ser realizada com sucesso, seja no revestimento cutâneo, muscular ou esquelético (enxertos ósseos vascularizados, incluindo as pequenas articulações), possibilitando a preservação de um braço, mão, perna, etc…, evitando-se a perda dos mesmos.

2 – Locais onde há infecção crônica (osteomielite e úlceras que não cicatrizão).

Perguntas Frequentes

Quanto mais cedo melhor, pois os tecidos estão sem nutrição (sangue). Um membro resfriado (ex.: mão) adequadamente pode ser reimplantado dentro de seis à doze horas.

Em torno de 6 a 12 horas, dependendo de cada caso. O tempo é prolongado pois a cirurgia envolve estruturas pequenas (diâmetro dos vasos 1 a 5 mm). São cirurgias ultra especializadas que necessitam materiais apropriados (micropinças, microtesouras, clamps microvasculares e medicação específica) e pessoas altamente capacitadas (cirurgião, anestesista e enfermagem).

Dependerá das condições clínicas do paciente. Lembre-se que em primeiro lugar está a vida do paciente. As partes lesadas deverão sofrer um julgamento clínico, isto é, as vezes as lesões são extremamente mutiladoras que a cirurgia é inviável.

O paciente permanecerá no hospital de 05 a 10 dias pois necessita cuidados especiais com a medicação e alimentação. Na medicação os pacientes recebem substancias que impedem a obstrução dos vasos permitindo o livre fluxo sanguíneo. Na alimentação o paciente é proibido de alimentar-se de chocolate, refrigerantes, bolachas recheadas, chimarrão, enfim, é proibido o uso de alimentos que fazem vasoconstrição (diminuição do fluxo sanguíneo).

São as primeiras 48 horas, onde há uma readaptação, podendo o reimplante ou transplante de tecido falhar.

Alguns sim. Outros pagam somente a hospitalização. Mas o material investido não, como: clampes descartáveis (fundamentais para a religação dos pequenos vasos), micropinças, lupas de magnificação e microtesouras. Deve-se levar em conta que esses materiais precisam ser repostos.

Extremamente, pois há um grande risco de entupimento vascular. As artérias ficam espessadas dificultando as reanastomoses (religação vascular).

Sim, quanto mais jovem melhor, mas cada caso é um caso, por exemplo: há pacientes com 50 anos de idade que apresentam condições físicas melhores que muitos jovens, por levarem uma vida saudável.

A única conseqüência é a cicatriz da área doadora, a qual é amenizada pois, um membro (mão, pé, braço, perna…), foi salvo. Além do que, não há perda da funcionabilidade da área doadora. O organismo humano funciona como um menu (carta) onde podemos utilizar as mais diversas partes do corpo para substituir outras.