Reimplante é quando um membro (dedo, mão, braço, pé, etc…) amputado é recolocado de volta no local de origem, onde é refeita a parte óssea (osteossíntese), artérias, veias, nervos, músculos e tendões.
Essas amputações podem ser completas, onde o membro está totalmente separado do corpo, ou, parcial, onde a amputação é técnica, ou seja, não há circulação arterial ou venosa no membro afetado, mas o membro ainda continua preso no corpo por pele, osso ou tendões.
Os reimplantes de membros tem interessado os cirurgiões há séculos. HOPFNER, em 1903, publicou um trabalho experimental sobre reimplante em amputações completas de membros em cães. Somente em 1962, Malt e Mckham realizaram o primeiro caso de reimplante em um menino de 12 anos que havia sofrido amputação completa do membro superior (braço) e cujo o reimplante foi um sucesso.
Anastomoses (revascularização arterial ou venosa) em calibres menores com 1.5mm de diâmetro foi demonstrado por BUNCKE em 1965. Mas foi KOMATSU e TAMAI em 1968 que realizaram o primeiro caso de reimplante de polegar e enfatizaram a importância do uso e recursos microcirúrgicos em reparações vasculonervosas de dedos amputados, ou seja, reparo de estruturas de diâmetros muitos pequenos que variam de 1.0mm a 1.5mm, como artérias, veias e nervos com auxílio de microscópios ou lupas magnificadoras (Fig. 1 e 2).
Em Passo Fundo, o Hospital São Vicente de Paulo, tem tradição em reimplantes há cerca de 20 anos, com a participação de ortopedistas, cirurgiões vasculares, neurocirurgiões e anestesistas, ou seja, uma equipe multidisciplinar.
Desde janeiro de 1999, em Passo Fundo, foi introduzida a técnica microcirúrgica de reconstrução para reimplantes e retalhos livres, que possibilita salvar muitos membros superiores ou inferiores que estariam à risca de amputação. Já foram realizados desde janeiro de 1999 pela equipe do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) e do Serviço de Anestesiologia e Recuperação (SAR) vinte e sete (27) retalhos de tecidos (livres ou pediculados) e dez (10) reimplantes.
Transplantes de tecidos homólogos (de uma mesma espécie – cadáveres ou não) como: rins, coração, pulmão, fígado já vêm sendo também realizados com sucesso na nossa cidade. Transplantes de membros (cadáveres) estão em desenvolvimento, como é o caso do transplante de mão realizado em Lyon (França) em 1998, e em Louisville (EUA) em janeiro de 1999. Nestes casos as dificuldades são ainda maiores, pois há uma grande necessidade de drogas imunossupressoras para evitar rejeições. Nas destruições articulares ou ósseas por trauma, tumores ou artrose, as próteses (partes sintéticas feitas de ligas metálicas e plástico) vieram substituir as partes danificadas, restabelecendo a função, diminuindo a dor e remodelando a deformidade prévia, dando ao indivíduo a possibilidade de retomar as suas atividades habituais.
Com o desenvolvimento tecnológico de novas técnicas cirúrgicas, aparelhos, biomecânica, engenharia genética e imunologia, a substituição e reimplantes de partes do corpo vem se tornando um cotidiano em nossas vidas, transformando a ficção em realidade ao filme de Frankstein.
Antônio Severo, Microcirugião e Ortopedista.